"Com minha música, lhe darei um sono mais profundo do que a morte, deixe-se levar pela melodia de minha voz."
História
As sereias são seres mitológicos metade humana e metade peixe, mas de acordo com escritores antigos elas eram retratadas como uma de suas metades sendo a de um pássaro.
Na Grécia Antiga, porém, os seres que atacaram Odisseu eram na verdade, retratados como sendo sereias, mulheres que ofenderam a deusa Afrodite e foram viver numa ilha isolada. Assemelham-se às harpias, mas possuem penas negras, uma linda voz e uma beleza única.
Odisseu e as Sirenes. Pintado em 1891 por John William Waterhouse. |
Aparência
Possuidoras de uma beleza estrondosa, essas “ninfas” dos mares tem um desejo mortal de levar os mortais para a perdição. Enfeitando-se como conchas, pérolas, jóias e artigos de naufrágios as pequenas crianças dos mares encarnam o espírito da vaidade.
O silêncio das sereias
Para se defender das sereias, Ulisses tapou o ouvidos com cera e se fez amarrar ao mastro. Naturalmente - e desde sempre - todos os viajantes poderiam ter feito coisa semelhante, exceto aqueles a quem as sereias já atraíam à distância; mas era sabido no mundo inteiro que isso não podia ajudar em nada. O canto das sereias penetrava tudo e a paixão dos seduzidos teria rebentado mais que cadeias e mastro. Ulisses, porém não pensou nisso, embora talvez tivesse ouvido coisas a esse respeito. Confiou plenamente no punhado de cera e no molho de correntes e, com alegria inocente, foi ao encontro das sereias levando seus pequenos recursos.
E de fato, quando Ulisses chegou, as poderosas cantoras não cantaram, seja porque julgavam que só o silêncio poderia conseguir alguma coisa desse adversário, seja porque o ar de felicidade no rosto de Ulisses - que não pensava em outra coisa a não ser em cera e correntes - as fez esquecer de todo e qualquer canto.
Ulisses, no entanto - se é que se pode exprimir assim - não ouviu o seu silêncio, acreditou que elas cantavam e que só ele estava protegido contra o perigo de escutá-las. Por um instante, viram os movimentos dos pescoços, a respiração funda, os olhos cheios de lágrimas, as bocas semi-abertas, mas achou que tudo isso estava relacionado com as árias que soavam inaudíveis em torno dele. Logo, porém, tudo deslizou do seu olhar dirigido para a distância, as sereias literalmente desapareceram diante da sua determinação, e quando ele estava no ponto mais próximo delas, já não as levava em conta.
A Sirene, por John William Waterhouse (em 1900) |
Mas elas - mais belas do que nunca - esticaram o corpo e se contorceram, deixaram o cabelo horripilante voar livre no vento e distenderam as garras sobre os rochedos. Já não queriam seduzir, desejavam apenas capturar, o mais longamente possível, o brilho do grande par de olhos de Ulisses.
Se as sereias tivessem consciência, teriam sido então aniquiladas. Mas permaneceram assim e só Ulisses escapou delas.
De resto, chegou até nós mais um apêndice. Diz-se que Ulisses era tão astucioso, uma raposa tão ladina, que mesmo a deusa do destino não conseguia devassar seu íntimo. Talvez ele tivesse realmente percebido - embora isso não possa ser captado pela razão humana - que as sereias haviam silenciado e se opôs a elas e aos deuses usando como escudo o jogo de aparências acima descrito.
Publicado na Folha de S.Paulo, domingo, 6 de maio de 1984.
Canto das Sereias
Paródias
Claro que não poderíamos se esquecer da sereia mais famosa de todos os tempos, estes vídeos apenas refletem que nossa menina não veio para brincadeira.
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